Os dias mais negros da Briosa *

Muitas personalidades ligadas à Académica continuam a assistir impávidas e serenas ao turbilhão de acontecimentos que desde há algumas semanas atormenta todos quantos aprenderam a olhar para a Briosa como um clube diferente, vendo nela muito mais que uma agremiação desportiva, antes o símbolo de todo um conjunto de valores universais, insubstituíveis e inatacáveis.
Os mesmos valores que vêem agora colocados em causa depois de o Ministério Público ter formalizado a acusação ao presidente José Eduardo Simões, imputando-lhe a prática de oito crimes de corrupção passiva, com alegados benefícios para o clube e também para o próprio Simões.
O choque inicial que abalou Coimbra ao vê-lo ser constituído arguido redundou num silêncio quase global, que está agora a ser quebrado nalguns círculos que rodeiam o clube. Mas ainda há quem não queira pronunciar-se publicamente sobre tão melindrosa questão. Personalidades importantes na história da Académica, como Álvaro Amaro ou Fausto Correia não deixam de confessar tristeza por tudo o que de recente tem acontecido à sua Briosa, mas por ora remetem-se ao silêncio.
Académica como fonte de desprestígio
Vozes há, porém, que começam a fazer-se ouvir em Coimbra, tentando despertar todos os que gostam da Académica para a gravidade da situação em que o clube foi envolvido. O jurista António Marinho é uma delas. Ontem ouvido pela Agência Lusa, o causídico considerou que a Académica «perdeu toda a sua mística e transformou-se numa grosseira mistificação», ao ponto de ser agora uma «fonte de desprestígio» para a cidade e academia.
António Marinho foi ainda mais longe ao considerar que «perante estes últimos acontecimentos, com o presidente da Académica a ser acusado de cerca de uma dezena de crimes de corrupção, a Académica é um peso enorme para a cidade de Coimbra».
Os valores que outrora caracterizavam a Académica, defendeu o jurista, «aquilo que a individualizava no contexto desportivo, desapareceu completamente». Para António Marinho, «este processo é a evidência última da igualdade da Académica em relação a tudo o que há de mau no futebol português». «A promiscuidade entre o futebol e o poder autárquico e político está aqui demonstrada», disse. A finalizar, críticas ao «silêncio ensurdecedor» sobre a matéria: «O facto de a massa associativa assistir, impávida e serena, ao processo constitui um sintoma do grau de degradação a que chegou a Académica.»
É inacreditável | ||||||
MÁRIO CAMPOS(antiga glória da Académica) | ||||||
Acho que deviam convocar uma assembleia geral urgentemente para ouvir os sócios sobre uma possível demissão do presidente, que devia pôr o lugar à disposição. Isto é inacreditável na história do clube. Custa muito aos que gostam da Académica ver isto acontecer. Nunca se viu uma coisa assim, isto é muito gravoso e tanto o engenheiro José Eduardo Simões como o presidente da Mesa da Assembleia Geral, Almeida Santos, deveriam repensar toda a situação e reflectir sobre os malefícios de tudo
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