segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Mancha(da) de Negro

Caracterizam-se por entoar os mesmos cânticos. Varia apenas o conteúdo, consoante a côr do clube. Imitam-se nos mesmos gestos. Umas vezes, no incentivo à equipa, levantam o braço direito em riste, fazendo lembrar a juventude hitleriana ou a antiga mocidade portuguesa. Outras, para insultar os adversários ou o árbitro, levantam apenas o dedo maior. Utilizam os mesmos gritos racistas para mostrar o ódio aos jogadores de raça negra adversários, mesmo que nas suas próprias equipas joguem, igualmente, jogadores africanos. Utilizam os mesmos refrões obscenos, entoados em côro, dirigindo-se aos adversários.
Há sempre, entre eles, dois ou três indivíduos bem entroncados, carecas e com o corpo tatuado com símbolos bélicos, muitas vezes com a cruz suástica que, mesmo que a temperatura seja baixa ou que chova «picaretas», permanecem todo o jogo de tronco nu. Gozam ainda de um estatuto especial, pois, contrariamente ao comum dos espectadores, podem entrar nos estádios com uma «panóplia» de objectos que, à partida, deveriam ser considerados perigosos. Lembro-me que, há três anos, no último jogo do campeonato com o E. Amadora em Coimbra, uma das minhas filhas teve de deixar à porta, por questões de segurança, uma pequena bandeira da Briosa. Alguns deles entram, para essses mesmos estádios, «ganzados» ou alcoolizados. Enfim, é este, mais ou menos, o retrato das famosas claques de futebol.
Serão todas assim?
Será que a claque da Académica, a "Mancha Negra" se enquadrará nestas características? É evidente que, no seu todo, não! Existem, no entanto, no seu seio, alguns elementos que têm exactamente aquele perfil. Na época passada presenciei, em alguns jogos da Académica realizados fora de casa, cenas vergonhosas contra as quais me insurgi no blogue "Os Pardalitos", quer através de textos, quer através de comentários, alertando para a existência de um forte défice cívico entre a claque. E a reacção qual foi? Fui «fuzilado» por uma série de comentadores, dizendo que a "Mancha Negra" é a melhor claque do mundo e que eu estava a ser tremendamente injusto. Referi-me, entre outras, a cenas de violência irracional e insultos de teor racista que se tinham verificado no jogo realizado na Amadora. Houve, inclusive, adeptos da Académica que foram, nesse jogo de má memória, alvos de ameaça física.
Chega agora, através de João Mesquita e P. Oliveira, o relato da selvática agressão de que foi alvo um dirigente da Casa da Académica de Lisboa no sábado à noite em Alvalade, o que, infelizmente, vem confirmar, que, desde há algum tempo, há mesmo muita falta de civismo entre elementos da claque.
A "Mancha Negra" terá que voltar a ser o que era. Afirmar-se pela diferença, pela positiva, em consonância com os valores da Briosa!
Vivem-se , realmente, tempos difíceis na Académica. Parece-me haver uma evidente crise de valores. É a dolorosa e crescente descaracterização da equipa. São os "crimes" graves que recaem sobre o presidente e que, estranhamete, pretendem que os entendamos como normais e agora este vergonhoso incidente. Será também para branquear? Traduzindo bem este estado de coisas, eis a parte final do comentário de João Mesquita "...Sob pena de termos de concluir que as coisas em matéria de cultura e de comportamento compagináveis com a grandeza da instituição, ainda estão pior do que aquilo que já sabíamos estar"