PRESIDENTE É ACUSADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO DE OITO CRIMES DE CORRUPÇÃO PASSIVA

NÃO foram apenas donativos em dinheiro que José Eduardo Simões, enquanto dirigente da Académica e director municipal da Administração do Território na Câmara de Coimbra, terá pedido para a Briosa a troco de alegados favores, no âmbito dos poderes que lhe foram conferidos na autarquia, a empresários do ramo da construção civil. Simões terá colhido outros benefícios para o clube, como sucessivos empréstimos livres de juros e até mesmo jogadores, alegadamente contratados sem grandes custos para os cofres da Briosa. Simões é acusado pelo Ministério Público (MP) não de uma dezena, mas sim de oito crimes de corrupção passiva, quatro para acto ilícito e quatro para acto lícito. Em relação aos primeiros a moldura penal vai de um a oito anos de prisão, os segundos implicam penas que podem ir aos dois anos de prisão ou multa até 240 dias.
Os oito crimes de corrupção passiva de que o presidente da Académica, José Eduardo Simões, é acusado pelo MP terão sido cometidos quando já desempenhava as funções de dirigente da Briosa, nomeadamente através do cargo de vice-presidente administrativo e financeiro. É já nesse cargo que Simões é convidado para a Direcção Municipal de Administração do Território na câmara de Coimbra. É ainda antes deste período que conhece o empresário Emídio Mendes, e foi a relação entre ambos, entre outras com mais empresários ligados à construção civil, que o MP investigou. E acabou por concluir existir matéria para imputar ao presidente da Académica a autoria material de crime de corrupção passiva para acto ilícito. Aliás, este é, apurou A BOLA, o primeiro dos oito crimes de que é acusado.
Emídio Mendes «deu» 3,5 milhões de euros
As investigações conduzidas pelo Ministério Público apontam que Emídio Mendes, ou empresas que este detinha, concedeu à Académica, na pessoa de José Eduardo Simões, donativos vários e até mesmo empréstimos livres de juros. Quantias que, globalmente, atingiram valor de cerca de 3,5 milhões de euros.
A troco de quê? De acordo com fonte conhecedora do processo, a troco de favores no âmbito do empreendimento imobiliário Jardins do Mondego, cuja construção ultrapassou, em altura, o que constava no projecto aprovado, tendo a obra sido por isso embargada. Simões, que enquanto director municipal da Administração do Território supervisionou de perto o empreendimento, e alegadamente tendo já conhecimento que tinham sido construídos pisos não aprovados, é acusado, por exemplo, de ter impedido acções de fiscalização da obra. Ou seja, alegadamente terá praticado acto em violação dos deveres a que estava obrigado no desempenho daquele cargo público, para proteger os interesses privados de Emídio Mendes.
Brum, Marcel e outros...
Não foram só euros que terão servido de moeda para pagar os alegados favores que configuram os crimes de que é acusado José Eduardo Simões. Através de Emídio Mendes ou de empresas a este ligadas, a Académica terá adquirido jogadores que, na altura das respectivas contratações, não implicaram custos de maior para as finanças do clube. Marcel terá sido um desses casos. Antes de vir para Coimbra, o avançado jogava no Samsung Blue Wings, da Coreia do Sul, que só aceitou libertá-lo mediante elevada verba que terá sido paga por um fundo de investimento, alegadamente ligado a Emídio Mendes. O médio Roberto Brum terá sido adquirido com dinheiro desse mesmo fundo, que terá desembolsado cerca de 700 mil dólares ao Coritiba. O lateral-direito brasileiro Pedro Silva é outro dos jogadores que terá sido adquirido pela Académica neste contexto. E em Coimbra sempre se levantaram dúvidas sobre a pertença dos passes destes jogadores.
Notícia de hoje do jornal "A BOLA", assinada por Pedro Soares