Começava, então, uma dura batalha jurídica, destinada a garantir a transferência para o Clube Académico de Coimbra dos direitos desportivos que eram pertença da Académica. É que muita gente viu na mudança de nome um excelente pretexto para, empurrando o Académico para a terceira divisão distrital - o escalão por onde têm, obrigatoriamente, de começar as equipas que pretendem iniciar-se no futebol federado -, ocuparem o lugar que a Briosa, por direito próprio, ocupava na 1ª divisão.
Quatro juristas, oriundos de credos políticos que vão desde a direita à chamada esquerda revolucionária, lideram essa batalha desde a 1ª hora:
Aurélio Lopes,
Diamantino Lopes,
Fonseca Viegas e
Pinto Bastos. A seu lado terão, em permanência, uam comissão eleita em plenário de jogadores, de que fazem parte
Mário e
Vitor Campos,
Belo,
Manuel António e
Gervásio.
Mais uma originalidade da casa: na mesma reunião em que esta comissão é eleita, a quase totalidade dos atletas assume o compromisso de se manter na equipa, quer ela continue na 1ª divisão, quer seja obrigada a disputar o Campeonato Distrital. "Só na Académica é que isto era possível", diz, duas décadas depois, Vitor Campos, "esquecendo-se" de que o clube se chamava então, Académico e demonstrando como os academistas tiveram, sempre, dificuldade em "engolir" o nome que, durante anos, foram obrigados a adoptar...
Foi aquela "br

igada" que, à frente de uma representação de cinco centenas de futebolistas dos diversos escalões do Académico, a que haveria de juntar-se
Mário Wilson, então a treinar em Lisboa, rumou em direcção ao Palácio de Belém, num belo dia do Verão de 74. Debalde: não havia marcação prévia de audiência e o Presidente da República, ocupado com a visita a Portugal do secretário geral da ONU, não pôde receber a delegação.
Esta conseguiu, ainda assim, ser recebida pelo chefe da Casa Civil da Presidência, o que viabilizou um encontro imediato com o Secretário de Estado dos Desportos,
Avelãs Nunes, que, apesar de ser "gente de Coimbra", terá revelado "pouca sensibilidade" para o problema com que se via confrontado. A reunião decorreu num clima de frieza e acabou, mesmo, com grande violência verbal.
Mas jogadores e juristas perderam pouco tempo: mal chegaram à cidade do Mondego, programaram novo contacto com o coronel
Rafael Durão, que de chefe da região Militar do Centro transitara, entretanto, para o comando da base aérea de Tancos. O resultado da diligência não podia ter sido mais frutuoso, já que o coronel se pôs de imediato ao telefone com
Spínola, assegurando que os responsáveis do Académico seriam recebidos pelo Presidente naquele mesmo dia.
Já em Belém, juristas e representantes eleitos dos atletas escutaram nova conversa telefónica : "Estão aqui os homens do Académico e , por aquilo que me estão a dizer, têm toda a razão. Não os quer receber?" A pergunta era de
Spínola para
Vasco Gonçalves...
O Primeiro Ministro não só recebeu a delegação como, conta
Mário Campos, a tratou

com a "maior simpatia". O jogador chegou a mostrar-se impressionado: "Tratou-nos a todos pelo nome e a mim, que tinha sido operado ao menisco, até me perguntou se estava melhor do joelho".
Era um bom prenúncio, E, de facto, ao fim de hora e meia de reunião,
Vasco Gonçalves prometia " a melhor atenção à evolução do processo" que entretanto, dera entrada na FPF, por iniciativa da AFC, presidida por
Guilherme de Oliveira.
A comissão jurídica conseguia, entretanto, um reforço de peso - Mota Pinto, cujos pareceres, considerando o Académico como "o sucessor legítimo" da Secção de Futebol da AAC, viriam a revelar-se decisivos para a vitória nesta dura batalha jurídica. Mas, apesar do empenhamento daqueles consagrados juristas e figuras garndes da Briosa, naõ foi fácil convencer a Federação de que a ex-secção de futebol da Académica, na prática administrativa e financeiramente autónoma desde há anos e o Académico eram o mesmo corpo, já que eram iguais os seus associados, dirigentes e atletas.
É que o Conselho de Jurisdição da FPF decidira, em primeira instância, negar provimento Às razões do Académico. Pior do que isso: todos os seus quatro membros, entre eles
Marcelo Rebelo de Sousa, foram da mesma opinião.
Em Coimbra, a decisão é recebida com grandes manifestações de rua, cortes de estradas e um comício no Estádio Municipal de Coimbra, onde intervenções como a de
Norberto Canha, levam a multidão a clamar por justiça. Pelo seu lado, as comissões eleitas nas assembleias de sócios e de jogadores desdobram-se em contactos com juristas da Federação, contactos esses que, pela sua urgência, chegam a envolver deslocações em avionetas. certo é que, na segunda instância federativa, as pretensões do Académico são satisfeitas, curiosamente pelos mesmos 4-0 - só que de sentido inverso...- verificados na primeira apreciação. E nessa mesma noite, em Coimbra, o protesto é substituido por enormes manifestações de júbilo (...)
*In Livro da Académica
Nota: Para os mais novos acho importante conhecerem a história de que é feita esta gente de grande carácter. Que sirva de motivação para o(s) próximo(s) jogo(s). Para os que viveram as situações, que voltem a apoiar a AAC. Todos somos poucos! Viva a Académica!!!