segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Entrevista a Domingos:“Quero construir a minha equipa a partir de Janeiro”


Domingos Paciência fez, ao DIÁRIO AS BEIRAS, um mês depois da sua chegada a Coimbra, um primeiro balanço como técnico da Académica. Revelou sentimentos do passado e do presente, mas, sobretudo, projectos concretos para o futuro da Briosa.

Este primeiro mês ao serviço da Académica, já lhe permitiu conhecer o clube?
Neste momento, sinto-me muito bem identificado. Já sei como é que as pessoas funcionam, como as coisas se processam. Estou muito mais integrado, conhecedor de todas as situações. Para mim, isso é muito importante.
Sente-se, então, completamente adaptado?
Acho que já estou adaptado ao clube e às pessoas. Penso que este primeiro mês foi fundamental, mas sobretudo foi suficiente. Já me sinto bem integrado.

E quanto à equipa? Precisou de um período para a conhecer?
Quando cheguei aqui, o que eu conhecia dos jogadores era aquilo que assistia aos domingos, durante os jogos. Em termos de trabalho diário, desconhecia completamente os atletas, à excepção do Ivanildo com quem já tinha trabalhado na U. Leiria. O meu objectivo passou a ser conhecer, de imediato, o mais rapidamente possível, os jogadores deste plantel, as suas qualidades e as suas potencialidades.

Conhece, neste momento, ao pormenor, o plantel da Académica?
Sim. Ao fim deste primeiro mês de trabalho já consigo perceber, perfeitamente, aqueles jogadores que tenho ao meu dispor. E com quem conto.

Já identificou o que quer mudar em Janeiro, na reabertura de inscrições?
Já identifiquei, mas não vou adiantar ainda nada, pelo facto de já ter tido uma reunião, com as presenças do presidente [José Eduardo Simões] e do director-desportivo [Luís Agostinho]. Fiz saber aquilo que pretendia, quais as reais necessidades desta equipa.

As alterações prendem-se mais com entradas ou mais com saídas de jogadores?
Além de entradas de alguns jogadores, as alterações mais importantes neste momento vão passar pelas saídas. Um plantel não pode ter 29 elementos, como acontece na actual Académica.

Uma questão que causou estranheza, com a entrada de Domingos, foi o aumento de rendimento de N’Doye, que até se pensava ser uma “carta fora do baralho” após um início de época conturbado. Como o recuperou?
É simples. Temos de perguntar a um jogador aquilo que ele quer do futebol. A partir daqui, tem de se assumir um compromisso. Se não for cumprido, se não tiver a postura indicada a um profissional de futebol, então também não pode jogar. Comigo ou com qualquer outra equipa técnica. A partir do momento em que tive uma conversa com ele [N´Doye], perguntei-lhe o que pretendia do futebol e do seu futuro. Agora, ele é que sabe e, se realmente quer ir para a frente, só o conseguirá com um bom rendimento.

E quanto aos uruguaios Peralta e Pablo Castro. Quais as razões de nunca terem sido utilizados?
São questões técnicas. Já falei com os dois jogadores, eles sabem exactamente aquilo que eu pretendo. São também dois reforços, quando eu cheguei não conhecia ninguém, por isso, todos partiram da estaca zero. Eles estavam um pouco mais atrasados do que os outros e, por isso, não têm lugar. E não os convoco.

Mas então são questões, sobretudo, físicas...
Questões físicas, mas também questões técnicas. Eu, como treinador, não abdico de certas características e qualidades nos jogadores. Se elas não existem, ou não estão presentes naquele momento, então não existe a hipótese de contar com o jogador.

O Domingos Paciência ainda não repetiu nenhum “onze” desde que está na Académica. Anda à procura da equipa ideal?
Todos os jogos e adversários são diferentes. No futebol, não existem só esquemas de jogo. Existem estratégias, ponderadas a cada minuto, nos intervalos, mediante corre o jogo e o resultado. É natural, por vezes, existir o sacrifício de jogadores para se tentar encontrar o caminho da vitória. Daí, eu entender que, por vezes, é necessário mexer na equipa.

O objectivo é a manutenção na Liga, mas dá para perceber que Domingos é um treinador ambicioso. Os sócios e adeptos da Académica podem esperar uma reformulação de objectivos, ainda durante este campeonato?
Eu tenho, como base, o objectivo de conseguir alcançar a manutenção na Liga de uma forma tranquila, ao contrário do que tem acontecido nas épocas anteriores. É evidente que gostaria de ter um plantel e uma equipa de acordo com as minhas ideias, em termos de sistema de jogo, o que ainda não foi possível já que este grupo foi montado por outro treinador, com as suas ideias. Resta-me, até ao final do campeonato, tentar conseguir os objectivos a que o clube se propõe.

Então, basta esperar pelo final da época, para depois termos uma Académica à sua imagem...
Esperemos que em Janeiro as coisas possam melhorar substancialmente. Queremos equilibrar a equipa. Com a chegada de novos jogadores poderá acontecer que a equipa melhore. (pausa)... Eu penso que muito.

As condições de trabalho ao seu dispor agradam-lhe?
Sim. São muito boas, os Campos do Bolão garantem condições de trabalho excelentes.

Não falta nada, então?
Podemos melhorar sempre, em outros aspectos. Acho que isso são situações onde, caso continue por Coimbra, e em colaboração com o presidente e restante direcção, podemos melhorar. Sempre em prol do clube e da equipa de futebol.

Pode explicar a opção pelos treinos à porta fechada?
Às vezes essas decisões surgem em conjunto, sempre com o objectivo de defender os jogadores. Mas também a própria preparação para o jogo seguinte. Por vezes, vocês [jornalistas] especulam muito, sobretudo quando, nos treinos, surge alguma situação desagradável que está sempre susceptível de acontecer. E é importante os jogadores estarem protegidos.

Considera, então, uma vantagem, fechar as portas nessas sessões de trabalho.
É. Porque se treinamos livres, cantos e penáltis também é importante que essas coisas não passem cá para fora.

Considera-se um treinador atento às camadas jovens? Capaz de apostar num novato?
Sim. Sou daqueles treinadores que acredito que num jogador, mesmo com 16, 17 ou 18 anos, desde que tenha qualidade para integrar a equipa sénior. Então, caso surja a oportunidade, não tenho qualquer tipo de problemas em chamar um jogador e lançá-lo na Liga. Comigo, será lançado às feras.

Podemos esperar vê-lo nos jogos de juniores da Académica?
Sem dúvida. Já no ano passado acontecia isso, no sítio onde estava, e este ano acontecerá certamente o mesmo, logo que exista disponibilidade. E sublinho, havendo qualidade não tenho qualquer problema em apostar num jogador jovem.

A equipa técnica, recentemente definida, foi a que idealizou?
Como se costuma dizer, a “gato escaldado, de água fria tem medo”. E ainda reencontrei o Zé Nando, que conheci aos 13 anos, quando éramos iniciados do FC Porto. Fizemos toda a formação juntos, é uma pessoa que conheço muito bem e em quem confio, por isso, não pus qualquer entrave em trabalhar com ele.

Quando diz: “gato escaldado, de água fria tem medo”. Quer dizer que estes são os elementos da sua confiança?
Exactamente, “gato escaldado, de água fria tem medo”.

As acusações de corrupção, que serão julgadas em tribunal, feitas a José Eduardo Simões, são assunto de balneário?
De maneira nenhuma. Somos profissionais de futebol e, por isso mesmo, essas questões têm de nos passar ao lado. Claro que ficamos tristes, porque se trata de uma pessoa de quem gostamos. Queremos sempre que esteja tudo bem com o nosso presidente - no fundo, é o nosso bem-estar. Mas não é por isso que o grupo vai deixar de procurar ganhar. Mas não deixa de nos entristecer.

Sente o apoio desta direcção, no quotidiano?
Cem por cento. É muito diferente do que acontecia na U. Leiria. O presidente é uma pessoa presente, da mesma forma que o director-desportivo e o secretário-técnico [Rui Gonçalves]. É bom sentir que as pessoas gostam da Académica e que querem o seu melhor. E isso é muito importante para os treinadores e para jogadores. É assim que as coisas devem funcionar.

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