quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Preservar valores


"Então, és Benfica ou Sporting?" Esta é ainda a pergunta da praxe que qualquer adulto formula a uma criança em qualquer contexto. Há muitos anos, em criança, quando me dirigiam esta questão, respondia, com muito orgulho, sou Académica. A reacção então era "Ah, isso somos todos, somos todos da Académica, o clube dos estudantes", mas, claro, que no fundo eram sempre ou do Benfica ou do Sporting. Este fenómeno passa-se ainda hoje, pelo menos aqui a duzentos quilómetros de Coimbra. Hoje, porém, a opinião generalizada é de que a Académica já não existe. Não passa de um clube igual a tantos outros. Evidentemente que fico triste e argumento que ainda persistem determinados valores. No entanto, tenho de reconhecer que, de facto, hoje não é, nem pode ser, a mesma Académica. Há já alguns anos que a Académica não aconsegue arrastar adeptos, sobretudo entre os jovens estudantes universitários que eram uma referência no apoio à Briosa.
E o que se passa bem perto de Coimbra, em Soure, onde, desde a infância, passo férias? O mesmo fenómeno. Na vila de Soure e mesmo no concelho existem talvez até mais benfiquistas por metro/quadrado do que no resto do país. A reacção, contudo, aqui é diferente quando afirmo que sou da Académica "Ah, esse é o clube mais importante do distrito, mas..." E a realidade é hoje, mais ou menos, esta no resto do distrito e na própria cidade de Coimbra.
Como cativar, então, novos adeptos? É, será, extremamente difícil que a Académica, esta Académica, consiga novamente ter simpatizantes por esse país fora. Será, assim, necessário, em minha opinião, atrair, em primeiro lugar, gente da região.
À partida, essa grande massa adepta dos chamados grandes são, desde logo, uma carta fora do baralho. Também me parece difícil conseguir atrair um número considerável de estudantes universitários da cidade, pois a maioria deles, há já agum tempo, desligou deste futebol cheio de vícios e jogos subterrâneos. Assim, penso que a chave do sucesso passará por conseguir criar novos adeptos entre a população estudantil do ensino básico e secundário da cidade e do distrito.
Esta tarefa implicaria fazer um levantamento desse universo e adoptar estratégias diversificadas. Por exemplo levar, com regularidade, às escolas jogadores da equipa sénior em acções concertadas com os conselhos directivos. Todos nós sabemos o fascínio que os craques exercem sobre os jovens. Organizar torneios escolares como forma de captar novos talentos para a formação e também novos adeptos. Isto, claro, em coordenação com o grupo de professores de Educação Física. Distribuir todos os domingos, e não esporadicamente, bilhetes gratuitos às crianças e adolescentes de determinada escola, o que só é feito uma ou duas vezes por ano. Estas são, obviamente, algumas entre muitas acções possíveis.
Evidentemente que para haja sucesso na captação de novos adeptos é fundamental que exista uma forte identidade dos jogadores séniores com a história, os valores desta centenária instituição e da própria cidade. Claro que isto pressupôe que os jogadores, sejam estrangeiros ou não, não cheguem ao clube num ano e saiam logo de seguida. A base do sucesso tem, necessariamente, que assentar num formação de qualidade, com boas condições físicas e humanas. Os jogadores jovens têm de, para além do apoio técnico, ter todo o apoio social com uma aposta forte no êxito escolar. Por outro lado, os jogadores da formação têm de olhar para os jogadores séniores como exemplos, como uma referência em termos profissionais e humanos. Têm ainda que sentir que a equipa sénior é, será sempre, uma porta aberta e não, como parece estar a acontecer, um «muro» à sua frente. Ou seja, para que haja sucesso terá, naturalmente, que se preservar valores. Teremos sempre que continuar a marcar a diferença.
Viva a Académica!