sábado, 17 de março de 2007

Derrota

O estádio está quase cheio mas parece vazio.


Ele sente-se completamente sozinho, no meio da decepcionada multidão. A claque - pouco animada - canta, torcendo para que os 10 minutos finais sejam preenchidos por futebol da qualidade da Premier League. Eles querem que ainda haja golos, que ainda haja festa... Mas ele não. Ele quer que o jogo acabe, quer desaparecer, quer desligar o que assiste, quer sair dali, quer esquecer. Desiludido, questiona-se se ainda vale a pena todo aquele esforço, toda aquela devoção... Segue com o olhar a fila dos desistentes, que abandonam o estádio...

Levanta-se, repentinamente, para ver se a jogada que decorre dá golo... Não!

"Ohhhhhhh..."

Aplausos. Aplausos de decepção. Aplausos que pedem mais. Aplausos de misericórdia. Querem-se golos, querem-se jogadas bonitas, querem-se vitórias. Exige-se isso ao treinador, exige-se isso ao presidente, exige-se isso à equipa. Mais não se pode fazer, os palavrões esgotaram-se, as cordas vocais estão gastas. A sensação de traição corrói o coração, enquanto os adeptos adversários festejam. A equipa adversária desperdiça o pouco tempo que sobra, brinca com a paciência dele... Até o árbitro libertar o doloroso apito final.

0 pontos. Mais uma derrota, mais assobios, mais lenços brancos. O caminho até à saída do complexo desportivo parece o corredor da morte. Apesar de desatento, ouve os palpites dos treinadores de bancada. Ofendem o mister, ofendem o árbitro, ofendem alguns jogadores. Decide escutar os jornalistas da rádio que não se mostram impressionados. A equipa promete o mesmo de sempre: manter a cabeça erguida e começar a preparar a próxima partida.

"Bah!" - desliga o pequeno rádio e enrola os headphones - "Se não ganhamos para a próxima, isto complica-se...", diz um dos treinadores de bancada, enquanto ajeita o cachecol gasto, quase sem cor, de tanto uso.

A porta de casa fecha-se, triste. Ele não quer saber mais de futebol mas a televisão insiste em repetir a derrota desta tarde - em quase todos os canais, outra vez e outra vez. "Vitória justa", repetem eles. Sem acreditar nas sinceras palavras dos telejornais, desliga a televisão e tenta esquecer a miséria... Até ao fim-de-semana seguinte.


ACADÉMICA, por favor, vamos lá a acabar com estas histórias, sim?